28 abril 2012

Incógnita

Que sentimento é esse que te tira de foco, que te vira o avesso, que te coloca no ar? Que sentimento tem sintomas de ansiedade, de loucura, de dispersão, de saudade e de querer? Qual o nome da sensação que te faz não querer fazer nada sem o outro? Qual é o sentimento que te faz pensar tanto no "nós" e que te deixa com dúvidas na cabeça sobre o que realmente faz teu coração pulsar quando acorda? Que tipo de emoção é essa que você solta de dentro de você quando um abraço amigo te aperta? Um novo abraço. Que confusão é essa que te faz pensar no futuro (aquele bem distante mesmo), que te faz querer encurtar distâncias, aproximar palavras? Que sentimento é esse que não te controla os dedos, as palavras e o coração?  Que te faz querer o outro por perto nem que seja por uma palavra. Que tipo é esse que te faz arrepender por cada vírgula que escreve com medo de causar uma sensação ruim no outro ou pior, uma percepção errada do que realmente você queria passar? O que é isso? Como "isso" se chama? Será que se inventou um novo sentimento? Ou simplesmente estou me escondendo do que realmente é? Mas, de verdade, que tipo de loucura é essa que te faz desviar a mão da do outro, com medo, realmente, de ser o que você teme que seja? Que sentimento louco é esse que faz o outro ser tudo em um só? Que sensação é essa que te causa medo ao pensar em consequências, que te faz pensar em segredo quando você pensa em revelação, que te faz parar e imaginar se seria sempre assim? Qual é o nome da "coisa" que te faz fazer de tudo uma boa novidade, que te deixa orgulhosa, admirada e ao mesmo tempo te faz perguntas do tipo "como isso pode acontecer?"? O que é isso que te faz achar histórias românticas de livros caseiros a coisa mais linda do mundo e que te faz lê-las com o celular ao lado esperando uma mensagem-resposta? Que sentimento estranho, cabuloso, e quase transparente é esse que te faz escrever um texto dos seus melhores pensando em uma única criatura?

Dani Fechine

25 abril 2012

Antes de te conhecer

Antes de te conhecer eu não sabia o que era sentir saudade. Eu não sabia o que era conhecer alguém e jamais querer machucá-lo. Não sabia o que era desejar um abraço sincero. Antes de te conhecer eu não sabia o que era ser eu mesma, como era rir sem motivo aparente, muito menos que a inocência podia nunca ir embora. Antes de te conhecer eu não entendia porque as pessoas eram sempre tão felizes, porque eu era sempre a "muito chata". Eu não entendia porque tudo as vezes era tão triste. Antes de te conhecer eu não sabia que as coisas podiam mudar, muito menos as pessoas. Eu não entendia porque um sentimento muitas vezes não era recíproco. Eu não sabia o que era 'ser' antes de te conhecer. Eu não sabia o que era uma tarde feliz e inesquecível, não sabia como era bom deitar no ombro de alguém e me sentir num sonho. Não conhecia a sensação de bem estar, tampouco de que tudo estava dando certo. Só que antes de te conhecer eu não aprendi a esquecer. Quando eu te conheci eu não imaginava muita coisa. Mas eu aprendi que se deve dar valor àquilo ou à alguem que também nos dê valor. Eu aprendi, mas nunca evolui a ideia, porque quando eu te conheci tudo fez sentido, e só havia uma coisa na qual eu tivesse de me orgulhar e dar valor. Hoje eu dou o mesmo conselho que me deram há um tempo atrás: dê valor a quem te merece, seja amigo ou amiga, namorado ou namorada, saiba ter nas mãos algo que você nunca vai soltar. Mas nunca consegui entrar com isso na minha vida. Porque antes de te conhecer o mundo era cinza, e depois foi ficando preto e branco, sépia, margenta, até que as cores se aprumaram depois que eu te conheci. Hoje eu vejo o sépia voltar. Aquela cor envelhecida de fotografia do passado. Porque quando eu te conheci, você me fez criar uma memória fotográfica de tudo que vivemos, mesmo as coisas mais banais. Talvez pra eu te fazer recordar de tudo depois. Depois que eu te conheci tudo passou a ter seu nome. Porque se fulano já assistiu àquele filme, eu lembro que também já assisti. Com você. Antes de te conhecer eu não sabia o que era perder alguém e continuar tendo. Não sabia o que era perder e querer de volta e muito menos o que era perder e não querer ver nunca mais. Antes de conhecer você eu não sabia o que era ida e volta, mas nós mesmos nos fizemos aprender com o tempo. Que, sinceramene, era melhor se soubéssemos somente o caminho de ida. Antes de te conhecer eu não sabia o que era sentir vergonha do outro lado da linha, não sabia o que era alguém cantando pra mim com o maior amor do mundo e não sabia porque as coisas tinham que mudar. Até hoje eu não sei. Antes de conhecer eu sabia porque fulano não amava sicrano, eu sabia deduzir cada argumento silencioso de alguém que estivesse em uma situação não correspondida. Mas depois que eu te conheci eu perdi totalmente a reta a ser pontilhada. Eu simplesmente esqueci porque duas pessoas não podem se gostar sem passar por tanta dificuldade. Esqueci e nunca entendi porque os dois não podem se amar ao mesmo tempo. Não ter que um ano ser um e no outro ano ser outro. Até hoje eu me pergunto se haverá um dia, nesse mundo tão pequeno, que iremos sentar na beira da praia e lembrar (rindo muito da situação e agradecendo muito e achando aquilo tudo muita coisa do destino) das várias vezes que nos pegamos brigados, sem olhar nos olhos por muito tempo, e quanto tempo passamos separados, porém a eternidade que também passamos juntos. Iremos lembrar dos conselhos que pedimos um ao outro, dos problemas que tentamos enfrentar juntos, mesmo não estando tão ligado assim um ao outro. Sentaremos ali, lembraremos, sonharemos e acordaremos. Antes de te conhecer tudo fazia sentido. Tudo havia uma lógica e eu sabia como não amar alguém. Depois que te conheci eu aprendi que só se ama alguém assim uma vez na vida. E que esse amor permanece, sem te incomodar, mas o físico vai embora.


Dani Fechine

07 abril 2012

Terceira pessoa do singular

Estou muito bem. Sou rígida com o que quero, determinada. As coisas parecem se encaminhar pro lado bom, mesmo que isso não seja o aparentável. Você me vem a mente algumas vezes mas nada que me tire do foco. Estou começando a descobrir o que é e o que não é felicidade. E acredite, eu não gostei de tê-lo nesses conceitos. As coisas não estão a mil maravilhas, confesso. Preciso do meu amigo ao meu lado. Ele saberia me conduzir bem, independente do sorriso ou da lágrima que acaso eu derramasse.
Me parece normal um pedido de "quase" desculpa, me parece ingênuo, inofensivo até. Se tratando de você eu deveria saber o que esperar. Mas eu sempre espero o que quero. De repente minha estrutura perde alguns alicerces. Você me olha e sorri e me fala no ouvido e brinca e vai e volta e me abraça como antes. É tudo tão normal, tão déjà-vu [e acho que realmente a palavra é essa], que eu me faço de impressionada, eu fingo indignação [e realmente a tenha um pouco], eu tenho raiva e tenho vergonha. Amar alguém que realmente não devia é absurdamente incoerente e injusto.
E então você me abraça novamente, traz as piadas com um olhar antigo e me elogia com um sorriso que nunca foi seu, mas que sempre foi muito a sua cara. Você volta a fazer as mesmas atividades de quando estávamos juntos que me faziam imaginar que era apenas um meio de se ocupar. Eu me entendo. E então a gente se esbarra novamente. Você me olha sabendo que está prestes a me matar se por um acaso piscar o olho. E então você me mata. Você não é do tipo de homens que um dia eu iria me apaixonar. Mas eu me apaixonei. E não foi por quem você é hoje. Mas você se tornou tão meu, de tantas idas e vindas, você se tornou tão comum na minha vida, tão esperado, e tão normabilíssimo que hoje eu ainda me apaixono todos os dias por cada defeito seu que você insiste em procriar. 
E então você me liga, se preocupa com um simples "tchau" e resolve como quem nada quer, como quem está sem sono, ou como quem está com saudades [o que passa na minha cabeça, mas logo evapora], passar uns poucos 40 minutos na outra linha colocando, quem sabe, os assuntos em dia, de quando estive ausente. E aí você me faz dormir como um anjo. Não que você tenha dito "eu te amo", não que você tenha dito " sinto sua falta". Mas você disse. Você simplesmente resolveu falar. E ouvir você falar qualquer coisa antes de dormir, é somente, reconfortante e confuso. E então eu acordo. A noite foi maravilhosa. Sonhos reais demais acabando conosco desde os primórdios. Foi só uma ligação de 40 minutos como todas as outras do passado. Sem o "beijo, tchau" de despedida, mas foi. O problema está aí: como todas as outras do passado. Isso quebra até o que não se cola mais. 
Você some um pouco. Um pouquinho só. E liga novamente. Nada que me faça pensar muita coisa. Eu só tenho tempo de mudar meu humor. Nossa, como você é bom em fazer isso. Eu me sinto confusa e alegre ao mesmo tempo. Eu acredito em destino e isso me conforta um pouco. Mas não acredito nas pessoas. E isso tira todas as boas intenções amigáveis que talvez você tivesse. Pessoas não costumam ser como eu. Talvez está aí a dificuldade. E então você ressurge. Me joga cantadas de sempre como se eu fosse qualquer uma e como se eu caísse na sua lábia. Eu realmente não sou qualquer uma, mas caio na sua lábia. Porque quero e não por outro motivo. Te conheço o bastante pra saber em que não devo confiar. Então você vai ao mesmo local que estou, sempre em comunicação comigo, não com os outros milhões de amigos que se encontram no mesmo ambiente. E então joga a mesma frase de sempre. Posso até não ser mais tão chata assim, mas serei a chata de sempre. Você me acostumou a isso. E eu te amo por isso também. Não que seja uma coisa boa, mas você é lindo e feio ao mesmo tempo me fazendo recordar, sem querer, um tempo interessante que foi vivido. Como se não bastasse e realmente não basta, você fala naquele lugar que era nossa segunda casa. Eu sei que meu desejo é voltar lá como antes. Mas podia ser como agora também. Mas esse lugar ao ser pronunciado por você só me remete a nós dois. Impossível discernir. E então você me lembra que me fez gostar da melhor música do cantor mais gasguito do mundo, e que na verdade é o mais afinado e lindo, mas que você me entende quando eu falo isso. E ainda resolve dedicá-la a mim. E eu seria capaz de reviver a minha vida de três meses em cada nota musical dela. Isso não se faz.
E claro, para encerrar o show da noite, que já está ficando muito tarde, eu desço do carro, bato a porta e entro em casa. Sou uma iniciante nata. Inicio as mesmas coisas sempre e melhor do que ninguém. Porque eu reinicio sempre. Nem que seja só em mim. Não que eu me orgulhe disso. Logo me deito, escrevo e me lembro como se fosse hoje das milhões de noites confusas que tive como essa. Porque você realmente sempre foi, mas em mim sempre ficou. E para os outros você sempre volta. Você nunca soube o que queria, mas eu sempre sabia responder quando falavam em você. Sinto as dores do julgamento. 


Dani Fechine