25 junho 2012

Terra do Nunca

Uma vez eu ouvi uma música que dizia assim: "Nada me preocupa na Terra do Nunca, não é minha culpa se a vida é uma ilusão." E fiquei pensando, escutando a letra repetidamente, e o que seria a Terra do Nunca? Não irei acreditar que é o lugar onde ninguém nunca cresce e onde Peter Pan se esconde. Há uma ligação, mas é muito mais do que isso. Criei a minha própria interpretação e resolvi dar vida à minha Terra do Nunca. 
Há um lugar calmo, neblinoso, bucólico, e muito tranquilo, é como se fosse uma praia daquelas bem desertas, tão deserta que só há você e que faz com que nada te preocupe. Esse lugar mora na minha imaginação, no meu subconsciente. Eu o criei e quando eu penso nele todos os meus problemas se escondem por alguns minutos. E eu me imagino deitada naquela areia um pouco úmida, um vento forte que balance os meus cabelos e que me faça não querer estar em nenhum outro lugar, apenas ali, sozinha. Eu ainda irei concretizar o que a minha imaginação desenhou. 
A minha Terra do Nunca também se manifesta em forma humana, de carne, osso e sentimento. Pessoas que me fazem ser quem eu quero ser e quem eu realmente sou, amigos que estão contigo em qualquer topada e que nunca me deixará sozinho. Pessoas que me fazem esquecer tudo, e eu realmente deixo de me preocupar com qualquer coisa. A minha Terra do Nunca viva, me dar um lar quando resolve me abraçar, me encanta quando diz que me ama e me tira do chão quando é do céu calmo que eu preciso. Eu tenho amigos que se fazem melhor que uma Terra do Nunca. Se estou com eles, esqueço completamente a agonia de ontem. 
Terra do Nunca é um lugar, um lar, uma pessoa, uma palavra, que todo mundo tem que ter. Um momento necessário que você esquece todos os seus problemas, como a música diz. E se iludir um pouquinho com a vida te faz chegar em paz nesse lugar. Terra do Nunca pode ser sim um lugar onde a gente nunca cresce, porque ser criança realmente é com nada se preocupar, mas pode também ser alguém que cresce tanto que você se sente acobertado por ele. Eu sei onde encontrar minha Terra, que é de onde todo mundo deve ter vindo. Eu sei muito bem onde me aconchegar, me abraçar com o vento ou com braços, sei onde sorrir sem derramar lágrimas, ou sei alguém que as enxugue. Na Terra do Nunca nada me tira do foco de que ser feliz é o que mais importa e distrai. Na Terra do Nunca não há futuro, o passado serve de lição e o presente é o agora mais importante da sua vida. Terra do Nunca é o lugar de onde todos vieram e que nunca deveriam ter ido embora. A humanidade a esconde, interdita, até que você precisa se machucar muito para encontrá-la, mas consegue. A Terra do Nunca é o espelho mais limpo que você tem, o texto mais sincero que você escreveu e a foto mais feliz que você guardou. Terra do Nunca é aquela caixinha que você guarda no fundo do armário, com um laço de fita vermelho, é o carinho que você menos espera. Pra encontrar a sua Terra do Nunca, você precisa antes de tudo se encontrar. Eu não troco a minha por mais nada nessa vida. Bem vindo à minha Terra do Nunca.


Dani Fechine

23 junho 2012

Nostalgia Junina

Hoje o dia está bem calmo. Nada de forró pé de serra no rádio, ou tumulto dentro de casa. O São João desse ano já começou errado a partir do momento em que caiu em um final de semana. O que é o são joão, senão mais um feriado no nosso calendário? Há alguns anos a festa começava uma semana antes. Os fogos eram comprados com a maior ansiedade que cabia em mim, quando meu tio apanhava eu e minha irmã na nossa casa e íamos em busca de alegria. Aquela alegria que fazia muito barulho, mas tinha seu lado bonito. Chegávamos cheias de sacola em casa. Traque, chuveirinho, estrelinha, bombas, "árvore de natal", peão, ratinho... A gente sabia fazer o nosso ano novo em pleno são joão. Em casa, o movimento começava cedo. Mamãe e vovó com a mão na massa. Tinha de tudo. Canjica, bolo, carne, pamonha, e o milho. Ah, o milho! Esse era comprado a dedo. Pra não vir nem muito duro nem muito mole. Eu me sentava na porta da cozinha e tirava toda a palha dele para poderem fazer a canjica. Eu não gostava muito, mas era bom ajudar a fazer uma festa que você iria fazer parte. Quando chegava a tarde eu me sentava no terraço cheia de revistas, tesouras, cola e barbante. Era a hora de enfeitar o local. Tinha bandeirinhas de todos os estilos. E eu fazia com o maior gosto do mundo. Engomava meu vestido de quadrilha, separava em cima da cama junto com os sapatos e o chapéu de trancinha. Durante o dia meu avô andava pra lá e pra cá carregando madeiras e lenhas para fazer a fogueira. Ela sempre foi muito grande. Passava dias pra se apagar e ir embora de vez. Na hora da festa era muito pé de serra. Eu dançava com todo mundo, até com minhas tias. Tirava fotos, comia muito. Acendia um vela, que era melhor pra ficar soltando os fogos. Eu lembro que pra acender a estrelinha era um sacrifício de vida. Tinha que ir pro escuro pra ver melhor e tinha que ser um lugar que não fizesse muito vento. Eu era feliz quando conseguia. Salpicava várias estrelinhas perto de mim. Pareciam vaga-lumes. Meu primo as vezes acendia o "mijão", aquele que sai correndo atrás de todo mundo. Eu morria de medo de chegar perto de mim. Tinha um peão que mudava de cor e todo mundo achava lindo. E a atração da noite era sempre a "árvore de natal". Todos paravam pra olhar. O melhor de tudo era que a festa não terminava na madruga do dia 24. Ela se estendia até o São Pedro. E a festa era outra mais uma vez.
Desse tempo pra cá muita coisa mudou. As festas foram ficando cada vez mais calmas e quietas. Diminuiu pra um forrozinho com canjica e bolos. Depois veio o tempo só do churrasco a noite. O tempo que eu só soltava fogos e não tinha festa. Teve também o tempo que viajei pra um lugar calmo. E tem o tempo de hoje, que não há nem fogos nem festa. Eu cresci um pouquinho, não ligo mais pra fogos. Mas a festa é de uma falta enorme. O dia de hoje parece um dia normal. Pra mim não é véspera de são joão. Estou no meu espírito normal. Sem ansiedade, sem nada. Ouvirei os fogos mais tardes dos vizinhos mais próximos e dos distantes também e irei lembrar de como era bom ser criança. Hoje a minha tarde pode até ter a ver com bandeirinhas, mas eu terei que calcular a área e o perímetro delas. Ver o seno de cada ângulo e calcular o determinante das arestas pra ver se estão alinhadas. Bom são joão pra quem não perdeu a magia de comemorar. Guardarei os fogos para o ano que vem.

Dani Fechine

19 junho 2012

Identidade


Identidade resume o que você é, o que você faz e como você age.  Quem a constrói é você mesmo. Cada dogma seu, cada conceito que você cria forma a sua identidade. E a mudança que o meio provoca em você também influencia a sua formação. Não ter identidade já se torna uma identidade própria.
              Mas o que é identidade? O que a define? No meu ponto de vista, identidade é a personalidade e o agir das pessoas. Identidade vai ser o que cada pessoa constrói e as fazem ser da forma que são. Identidade é o que você busca pra te acrescentar ou para tornar-se diferente de outras pessoas. E o que a constrói? A nossa identidade é formada a partir de pressupostos de outras identidades. Tomamos várias outras como exemplos e criamos a nossa. Muitas vezes elas se assemelham, mas nunca haverá identidades iguais. Sempre haverá algo que te torna diferente das outras pessoas.
              A maioria das pessoas se forma a partir do que veem. Dessa forma elas se tornam cada vez mais caracterizadas com a sociedade do que consigo mesmo. A questão é se identificar ou não com o meio. Pessoas influenciáveis muito raramente terão uma identidade complexa ou interessante. Pois dessa forma não será criada exclusivamente por elas.
              No meu caso, a identificação com o meio é o que pior me define. Autenticide talvez seja a busca maior dentro do que se diz identidade. Muitas pessoas buscam ser o que os outros irão gostar ou pensar. Eu busco o que me torna diferente das outras. Nem radical demais, nem “sociedade” demais. É o que me convém e o que não convém aos outros. Discordo de tudo que o meio manifesta nas pessoas, e opino por tudo que me torna única. Pra mim identidade já resigna algo único. Só seu. Ninguém nunca conseguirá copiar por igual. Identidade se trata da sua descrição. O que você faz logo te mostrará o que você é. E o que você fala também.
                As pessoas buscam sempre algo que coloque algum sentido em tudo isso. Algumas vão até Deus, outras vão em busca de outras pessoas que as façam se sentir pra cima, outras buscam em palavras, e poucas em si mesmo. A verdade é que tudo isso nunca fará sentido e a busca por tal sempre será inútil. A maior das respostas é encontrar as perguntas. E se construir a partir delas.
               O mundo é daqueles que estão em constante dúvida, mas que têm certeza de cada pergunta.
A gente nunca sabe responder “quem sou eu?” se não nos perguntam ou se não colocam alternativas para nos caracterizar. Nossa identidade é construída a cada passo que damos e a cada palavra que pronunciamos. Estamos em eterna mudança. E nossa identidade é construída a partir delas. Nascemos com um
a, e a cultivamos, a modificamos, assim como também a destruímos, moldamos, pintamos, escrevemos nela, damos o nosso toque especial que a faz ser só nossa.
              Em resumo, identidade é tudo aquilo que você faz pra ser uma pessoa igual ou diferente, mas que de algum modo te faz ter uma “marca” específica. É o que te constrói, edifica e te descreve. Procure-a.

Dani Fechine

11 junho 2012

A tal da experiência única

Seria injusto comigo mesmo se eu não explicasse em palavras tudo que eu sinto. Eu queria ter tido uma força maior e ter falado a cada um tudo que eu sinto e tudo que eu penso. Tudo que vocês me fazem e me fizeram ser. Mas a emoção é sempre maior que eu, e pelo menos dessa vez, ela conseguiu falar um pouco do que eu tento demonstrar. Sim, isso é uma espécie de carta. Porque eu deixei de falar muita coisa que eu precisava, e eu não posso esperar mais nem um minuto pra colocar pra fora tudo isso. É a tal da experiência única.
Éramos sementes. Muitas mal cuidadas, muitas bem pequenas e outras bem visíveis e bonitas. Vocês simplesmente nos acolheram, nos colocaram em terra boa e nos deram as condições mais propícias para crescer, florescer, e gerar frutos. Muitas não aguentaram o sol escaldante, e murcharam antes de saírem do estado de "muda". Outras crescerem em ritmo acelerado, tornando-se cada dia mais vivas e felizes. A maioria passou por diversas condições climáticas que não as favoreciam. As vezes vinha um vendaval e elas tinha que se segurar com muito força para não serem levadas embora. Muitas conseguiram ficar. Mas outras voaram para onde o vento leva as coisas que um dia ainda vão crescer. Mas o mais importante é que todas as sementes que atingiram sua fase mediana conseguiram chegar no término de sua germinação. Cresceram, floresceram e agora vão gerar os frutos. Do mesmo jeito somos nós. Fomos nós. Vocês, animadores, foram os nossos jardineiros. Não teríamos sobrevivido sem o cuidado diário que recebemos.
Esses dias me serviram não só pra relaxar, meditar, pensar e refletir sobre as minhas novas decisões e escolhas. Eu pude, internamente, me redimir de tudo que me fazia mal e que me afastava de coisas boas. Aproximei pessoas de mim que já estavam do meu lado há muito tempo e eu custava muito pra aceitá-las ou entendê-las. Hoje eu percebo que elas são tudo que faltava. Eu pude também aprender com os meus próprios erros. Julgar quem você não conhece por inteiro é um grave acidente. Eu sempre fui assim. E a situação se voltou justamente contra mim. Ouvi depoimentos de pessoas que eu jamais esperava dizer coisas tão bonitas pra mim. Palavras que entram pelo seu ouvido e purificam sua alma. É a coisa mais difícil de explicar; o sentimento que se passou dentro de mim quando eu ouvi algumas pessoas me falarem que me admiram e que gostam muito de mim. Pessoas que pensavam totalmente o oposto antes de me conhecer. E quando as palavras que você escuta são as mesmas que você quer falar é ainda mais mágico. Porque não há nada mais agradável que reciprocidade de boas relações. Se redimir com alguém ou tornar-se amigo é um presente divino nas nossas vidas. Admirar alguém assim como alguém te admira também não tem preço.
Só que nesses momentos de reflexão e de aconselhamento espiritual, a gente também sente muita saudade e de muita coisa e de muita gente. Não seria eu se nada disso tivesse acontecido comigo. A sensação de que falta alguém muito importante é como te tirarem um braço. É ouvir uma simples pessoa cantando uma canção e uma voz de alguém ausente sussurrar em seu ouvido a mesma música. A gente sempre espera ver um amigo que sente muita falta entrar por aquela porta e te fazer uma surpresa. Mas já dizia o filme Toy Story: "Amizade verdadeira não é ser inseparável, mas estar separado e nada mudar." E é justamente isso que eu sinto por você, que está um pouco distante, mas que nunca saiu de perto de mim.
Saudade é um sentimento meio que inexplicável. Ou de várias explicações. Controverso, mas é exatamente assim. Sabe quando acontece algo com você que você jamais esperava e que você sente a necessidade de contar e de compartilhar isso com uma pessoa que pra você seria de imensurável importância fazer parte dessa alegria. Não só isso, mas vários outros momentos marcantes. Aquela vontade que dá de passar um dia inteiro colocando todos os assuntos em dia que foram passando sem ninguém ver, e os acontecimentos de horas atrás que te fazem querer compartilhar. O ruim disso é pensar se vale ou não a pena. E além de falar sobre você, ainda te vem a ideia dos conselhos que sempre em momentos de reflexão te vem a mente o tipo de conversa. É uma saudade que dá pra matar. Mas dá pra se matar também. É uma saudade que te faz doar-se mais ao próximo do que a si mesmo.
E eu jamais poderia esquecer do anjo que vive na minha vida. Acho que Deus o escolheu pra me proteger de tudo que puder me desestruturar emocionalmente e fisicamente. Deus sempre me envia anjos. E eu tenho um, em especial, que apesar de não possuir asas, sempre me leva ao alto quando é do céu calmo que eu preciso. Eu tenho um anjo que sempre que eu olhar pro lado ele vai estar lá pra me abraçar e dizer que tudo vai ficar bem, ou só pra dizer que eu sou linda ou me dá uma bronca e mostra-me o erro, assim como também procurar solução para o mesmo. Eu tenho um anjo que me ajuda a encontrar meus defeitos e a conviver com eles, um anjo que mostra todas as minhas qualidades e que nem que seja em um simples abraço, ele nunca me faltará. Esse tipo de anjo a gente costuma chamar de amigo. Eu tenho dois anjos na minha vida. Dois lindos anjos. Um longe e um bem pertinho de mim. São os meus amigos-anjos-irmãos.
É a tal da experiência única que um texto nunca vai conseguir decifrar, descrever ou representar. Só sei dizer que é incrível como Deus consegue mudar tanta coisa que sempre nos parece impossível.

Dani Fechine

02 junho 2012

Mudando da Rotina - Listen


Como Nossos Pais


Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação

Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos

E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não

Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
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Dá vontade de deixar a música inteira em negrito, porque é uma das mais bonitas pra mim. Não é por falta de texto que tô colocando ela hoje, é mais porque ela descreve muita coisa... Dani Fechine