08 março 2013

Metade completa

Naquele dia, se abraçaram como se fosse o último, riram como se não fosse mais o fazer, brincaram como se aquele momento se eternizasse e se beijaram como se fosse o último beijo de fim de tarde. Naquele dia deixaram de ser um, pra ser meio a meio. Aquele dia marcado na agenda, marcou também o coração (que parou de bater por um instante). Morreram e reavivaram de outra forma. Aquele dia nasceu como um outro qualquer, mas terminou como aquele filme com seu final reflexivo, criativo, inesperado e infiel ao livro. Aquele dia em que se olharam pouco, foi o dia em que se viram mais. Nas palavras. Se traduziram em versos, em risadas e em suspiros de quem já está com saudades do amanhã que (parece) que vai nascer. Naquele dia chuvoso, eles puderam sentir o que tão tarde sentirão. Daquele dia em diante eram metade um, metade o outro. Deixaram de ser a unidade, deixaram de ser os falatórios do dia seguinte, e deixaram de ser o problema carregado em suas próprias costas. Mas deixaram as fotos, as lembranças, as conversas, as mensagens trocadas, as vozes de "boa noite", o pedido de "até logo" e o grito de saudade. Deixaram consigo. Guardaram. E sentem até hoje o último suspiro. Gravaram as frases, as fotos declaratórias e guardaram, inclusive, aquele dia tempestuoso. Naquele fim de tarde deixaram os sonhos se romperem. Foi o dia em que passaram do futuro construído, para um passado bem feito. Passaram do presente atordoado para uma folha em branco, um amanhã estranhamente complicado de se escrever. Deixaram, com toda longevidade existente, as mãos que um dia se cruzaram. Deixaram voar os desejos que um dia puderam esclarecer e sonhar um pouco mais. Foi como empinar uma pipa e deixá-la voar por algum tempo até ficar presa em algum telhado ou poste de iluminação. Foi como abrir a gaiola de uma passarinho e ele não querer voar. A liberdade, pra ele, estava ali dentro, e o amor e o carinho do lado de fora não seriam os mesmos. Impetuosamente deixaram a Lua, com toda sua beleza divina, nascer sozinha na imensidão do mar. Lá na linha do horizonte. Aquela bola laranja e grande. Deixaram surgir sem mais os seguir. Naquele dia tão confuso e assimétrico, continuaram os mesmo de ontem, ainda que com todo amor do mundo.
Naquela noite meio nebulosa, voltaram pra casa como saíram um dia: amigos no papel, amores no coração

Dani Fechine