11 agosto 2014

Não escolher, mas ser escolhida


Era isso que faltava na vida dela: ser escolhida. Parar de classificar os homens e de colocá-los numa tabela imaginária, cortando qualidades incompatíveis e defeitos indesejados de cada um. Até que algum, vá lá, pelo menos um seria capaz de ficar, de fazê-la feliz. Mas não! Nunca restava. Todos seriam protagonistas de um romance com término marcado. Na cabeça dessa moça, desde o primeiro encontro, já rondava a ideia fixa de “não vai dar certo”. Mas não custava nada tentar. 

Para essa moça faltava existir uma variedade menor. Se ela queria sair da zona de solteira que rondava sua vida há alguns anos, ela precisava não ter que escolher. Precisa se apaixonar à primeira vista, mesmo não acreditando, mesmo isso sendo impossível aos seus olhos racionais de quem não ama quase nunca. Ela precisava se entregar. Depositar seus primeiros sentimentos no cara e deixá-lo decidir: é ela ou não? Para essa moça, era necessário sofrer um pouquinho por antecipação. 

Os tempos precisavam se bater. Se ela sentiu uma aceleração maior no coração, uma sequer, ele precisava sentir também. Esperar muito nunca foi a arte dela. Nem para um jantar, nem para passar algumas vidas juntos. Se ela ama, precisa ser agora. Precisa ser pra já. Não dá pra deixar esfriar o que no calor dos sentimentos pode ser bem melhor. Para essa moça, era importante amar primeiro. Mas, principalmente, não deixar de ser amada logo em seguida. 

Pra ela não tem essa de procurar o amor naquele relacionamento. Ou ela te ama e te fala isso sem medo – embora não tenha esse costume, e vale lembrar que isso são 10 pontos a mais na sua conta – ou ela te espera e confirma a certeza de que não, não vai dar certo mesmo. Para essa moça, a certeza no coração é infalível. Seja para o lado positivo ou negativo. Sentir a sensação de para sempre é ter a confirmação de que é ele. É ele o cara que lhe faltava durante esses 25 anos. É ele que vai ouvir o seu “eu te amo” que ela guardou uma vida inteira. É ele que vai receber os seus carinhos que tanto reprimiu. É ele que vai conhecer o seu lado mulher, enquanto a pessoa insensível que ela era se esconde mais uma vez nos seus caderninhos. 

Para essa moça é mesmo muito difícil amar. Relacionar-se com alguém é uma prova de fogo fácil de ser superada. É preciso compatibilidade de tempos. De certezas. De confirmações. De sinais. De saberes. Não é preciso ser igual a ela. Jamais esse foi um requisito. Mas para essa moça, para um relacionamento sair do vago para o sério é preciso apenas dela. É necessário, e disso ela tem certeza, de que ela sofra um pouco. Mas sofra por uma boa causa. E que essa causa seja amor. E que parta dela primeiramente. Mas que seja correspondido. Que os dois tenham nascido para se encontrarem e se esbarrarem por aí como Guido e Pricipessa. E que os obstáculos estejam aí, mas que eles tenham a certeza do tal “valeu a pena”, quando tudo desmoronar e cair por terra.

Para essa moça, antes de tudo, é preciso viver. É preciso aproveitar esse momento que sabe-se lá quando vai acontecer de novo. É preciso acreditar e ter simplicidade pra fazer florescer o que nem com muita água e sol foi capaz de brotar. Para essa moça, é de uma necessidade infinda o amor próprio. E o amor primeiro. Não sabe o que é? Eu explico. Para essa moça, é de fundamental importância que ela ame. E quem em seguida ele a ame igualmente. O inverso pode ser um perigo. Não queira arriscar. Essa moça sabe de tudo isso, mas continua tentando. Tentando fazer com que um dia toda essa matemática mal feita se desfaça e a torne capaz de amar sem necessariamente 1+1 ser igual a dois. 

Dani Fechine

Um comentário:

  1. "...sem necessariamente 1+1 ser igual a dois." Que lindo!!! Adoreeeeeei ♥♥♥

    http://listadasnuvens.blogspot.com/

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)