05 fevereiro 2014

Fica pro café?


Ei, moça, espera um pouco. Fica pro café. Eu fiz o omelete com tomate que você adora. O chocolate quente eu trouxe pra logo cedo – mais tarde te faço mais. Fica. Pode deixar a cama, assim, desarrumada, os lençóis misturados e os travesseiros jogados pelo chão. Te empresto aquela camisa branca de botão que você tanto gosta de colocar quando acorda, e nem ligo de passar frio. Desligo o despertador se você preferir. Ligo pro chefe e digo que vou me atrasar, porque a minha vida está a um passo de desmoronar caso eu bata a porta. Ele vai entender.

Te faço cafuné, penteio até o seu cabelo, e faço as tranças mais lindas. Fica que eu te conto mais uma vez como é se apaixonar todos os dias pela mesma mulher. Te compro a sua torta predileta, faço voz e violão com Something e deixo até o cachorro subir na cama e te fazer voltar a ser criança. Morena, deixa esse brilho iluminar um pouco o meu apartamento, esse cubículo que vira mundo quando você entra. Me liga dizendo que está com saudades e que não vê a hora de me encontrar, por acaso, na dobra daquele restaurante à la carte que a gente encontrou perdido nessa cidade. Me dá esse teu sorriso misterioso e me pede, mais uma vez, pra deixar a barba por fazer. Eu deixo. Até gosto. Porque esse teu olhar de que quer me beijar por isso, é uma despedida triunfal para uma noite de terça-feira.

Moça, te peço, fica. Esquece os erros de português, os verbos intransitivos e o pretérito imperfeito. Pisca os olhos com delicadeza, me sorri olhando de baixo para cima e passa a mão nos seus cabelos longos. Eu sou capaz de passar o resto da minha vida sentando, te olhando encantado. Eu também fico. Juro ouvir todos os seus causos, os seus problemas, suas histórias e desilusões. Vou te abraçar pra te proteger, vou te fazer carinho pra ver o arrepio da sua pele, e te prometo fazer da tua vida uma possível esperança de que vale a pena pisar descalço no mundo lá fora. Se você ficar pro café, te faço também no almoço o fettuccine que você gosta e ainda abro aquela garrafa de vinho guardada pra alguma data especial. Não há ocasião melhor para brindar, do que te ver ficar. Te ver tirar os chinelos, prender o cabelo com uma agilidade que só você tem e sentar no final da mesa, com um pé na cadeira e o outro riscando o chão. Agora você morde um pedaço do sanduíche e enquanto toma mais um gole do café, me olha por cima da xícara, me fazendo esquecer que eu também preciso de uma bebida quente.

Menina dos olhos que fitam, senta aqui. Lê esse livro que comprei pra você, deita na cama com as pernas entrelaçadas e ainda com a camisa que te vesti logo cedo. Fica, mas fica pra sempre. Não volta correndo arrependida. Homem que é homem tem lá suas fraquezas, e a minha é te aceitar sempre que você bate na porta com essa cara de que eu estava mesmo certo. Fica pra me dar bom dia e deixar eu te beijar na ponta do nariz quando eu virar pro lado e te ver deitada preenchendo o melhor lado da cama. Me deixa te ligar e dizer que hoje é o dia mais feliz da minha vida, porque você ficou. Moça, não corre. Descansa essas pernas, porque a maratona está chegando ao fim. Ou você corta a fita da linha de chegada ou deixa que alguém corte pra você. Vem, morena, eu estou te esperando no pódio, e o troféu é a nossa felicidade eterna, a nossa rotina nada convencional e um sorriso que abraça o teu corpo inteiro.

Moça, eu te amo tanto. Fica por isso. Fica, porque o meu amor é o suficiente pra nós dois. Eu amo por você. Amo por mim. Amor por nós. Mas fica, vai. Não limpa os pés quando entrar, nem bate mais na porta. Fica e desliga esse abajur que eu prefiro ver as curvas do seu corpo com as minhas próprias mãos. Fica e traz a tua melancolia cômica pra mudar os ares daqui. Não te peço mais que isso: fica. Sabe o que é, moça? Eu te amo tanto que fui cego até pra perceber que amor não se pede, nem se mendiga. Amor a gente sente. Mutuamente. Então, quer saber de uma coisa? Vai!

Dani Fechine