28 dezembro 2014

Maria Helena


Helena. Sempre achou que esse nome fosse escandalosamente forte. Registraria assim a sua filha se esse não fosse já o seu registro. Nome de mulher que luta. Batalha. Nome de mulher que chora, mas não se destroça. Helena é nome de mulher, não de menina. Pedra por fora, estranhamente delicada por dentro. Esse nome é digno de fortaleza. De compreensão. De força. Helena é nome de mulher guerreira, serena, que não se abala (facilmente). Mas Helena, em nome, em letras, grafada em papel, é apenas a casca de Maria. Maria Helena.

Por dentro, Helena é outra. Helena é Maria. Maria que luta todos os dias, Maria que acorda cedo, que trabalha, que tem filhos, que é casada, que tem casa, que ama, que sofre. Mas que vive. E não é menos forte por ser mulher. Não é menos forte por ser mãe. Não é menos forte do que ninguém. Mas Maria chora. Maria sofre. Maria se entristece. Maria se enclausura no seu próprio mundo, porque todo mundo precisa de um pouco de solidão na vida. Maria tenta viver a Helena que queria ser, mas foi com a grande Maria que a vida lhe presenteou.

Maria pensa. Maria reflete. Maria conversa. Meticulosamente centrada nas suas próprias decisões. São centenas com o seu nome, mas Maria é Helena. Maria é única.  Nos seus trejeitos, na sua peculiaridade de ser Maria, de ser mulher, de ser Helena, ela é especial. É uma, no meio de tantas cópias projetadas para fazer o mundo girar no sentido correto da rotação. Maria vai contra. Prefere acompanhar a translação. Prefere viver ao contrário. Prefere nadar contra a corrente, porque se não for difícil, ela diz, “não há reconhecimento, nem mesmo o meu”. Tudo, até as nossas próprias conquistas, só são devidamente reconhecidas se o esforço for proporcional à vitória. Maria sabia disso. E preferia lutar.

Mas era frágil. Frágil no sentido de amar. Amava como ninguém. Era capaz de amar o inimigo. Maria como Helena não se encontra facilmente. De pulso forte e de um coração que transborda compaixão, solidariedade, honestidade e paixão pelas pessoas. Esperança pela humanidade. Fé numa vida que não é a melhor que poderia ter, mas é a melhor que consegue. E não se preocupa com isso. É feliz. Helena como Maria é mais batalhadora que muita gente. É brasileira. E só para por carinho.

Helena também é Maria. E é incrivelmente inteira, não se faz nunca em pedaços, não se desmancha no ar. Busca em livros o resgate da monotonia, o aprendizado que não lhe foi suficiente e a coragem para repassar cada ensinamento aos seus filhos. Maria escreve. Mas escreve poesias. É na rima de cada verso que se faz realizada. Parece que não, mas Maria pode sempre te surpreender. Seus cadernos cheiram às rosas do seu jardim, roseiras vermelhas e cor de rosa, porque é lá que encontra inspiração. Puxa um banquinho, senta ao lado e escreve com o grafite que se faz suficiente. Às vezes cruza as pernas e é no chão mesmo que sente a natureza se fazendo em palavras. Maria é poesia. Helena é poema.

Assim, como numa canção de Chico Buarque, como na voz de Caetano ou de Gil, temos Maria Helena. Que cantarola esses mestres durante todo o dia, porque, felizmente, foi na poesia que se criou. Ela se criou. Não deixa de ser Maria porque é Helena, mas passa a ser Maria Helena quando é de fortaleza que estão falando. Ela é o pilar da própria vida. 

Dani Fechine