21 janeiro 2015

Casamento



Dez e meia. Não havia mais ansiedade que fizesse meu coração disparar. A igreja encantava aos olhos de todos e os meus já não aguentavam mais segurar as lágrimas. Ela entrou deslumbrante. Triunfante, eu diria. Simples, como sempre foi. O nude marcando a boca e o vermelho pulsando no coração. Ele passava as mãos uma na outra. Estava nervoso. A distância entre eles nunca foi tão grande. Queria estender a mão para encurtar o caminho, mas decidiu admirar, aquela que seria a mulher da sua vida, deslizar pelo tapete. Ele. Ela. Casando, os dois. Difícil acreditar. 

Eu estava em pé, bem ao lado do altar dos noivos. Fui escolhida pra ser madrinha e nada mais bonito que testemunhar o amor de dois grandes amigos. Logo eu. Eu que tanto torci por eles. Eu que presenciei desde a infância a união de duas crianças que, quando adultos, tornariam-se um só. Eu que hoje tento conter a emoção de ver o sorriso largo no rosto dela e os olhos brilharem nas feições dele. 

Os dois estavam lindos, juntos. Ao beijá-la a testa na chegada ao altar pude perceber a felicidade escorrer pelos olhos dele. Naquele instante eu sabia o que felicidade significava. E era amor. As mãos foram cruzadas e parecia que nem mesmo um grande vendaval fosse capaz de desgrudá-las. Tanto tempo esperando por esse momento, enfim, realizaram o que seria um sonho a dois. 

Ela, numa beleza cândida, era capaz de reluzir o mais obscuro lugar. Ele, ainda sem acreditar que seus sonhos estavam sendo escritos, transparecia satisfação. Os pais, compartilhados durante os anos juntos, não se continham. Os filhos estavam voando para um só ninho. Acabavam de se despedir de uma vida para começar uma nova. E, embora fosse difícil entregá-los a outras pessoas, os quatro exalavam a confiança necessária para que seus filhos proferissem o “sim” sem preocupação.

Eu, que daria a minha felicidade para vê-los sorrindo como estão, abaixo a cabeça numa forma de agradecimento. Não peço mais nada. Minhas preces já foram atendidas: enfim, trocaram as alianças. Mas rogo para que nada se dissipe, tudo se engrandeça. Sorrio disfarçadamente, sem mostrar os dentes, respondendo a tudo que estava acontecendo a minha volta. Pisco os olhos devagar. Sinto que minha missão chegou ao fim. Estou feliz.

E, como um selo do amor eterno, o beijo que deram pela primeira vez ainda na escola foi refeito doze anos depois. O que eu via eram duas crianças na inocência do primeiro encontro. Dessa vez, se iniciava o começo do resto de suas vidas. Ele. Casando. Com ela. Descobri a felicidade.

(...)
A vida prega peças. (...) A vida é quem dita as regras.


Dani Fechine

2 comentários:

  1. Texto muito bacana, deu até para visualizar cada momento ba minha mente, e com isso gerou uma ideia nova e diferente, irei fazer esse relato so que para cada amigo de verdade que eu tenho, será que conseguirei ser tão bom quanto ocê ?

    Parabéns pelo texfo fofin!

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"Aproveita que a melhor parte é de graça e feita com mais amor do que cabe em mim." (Tati Bernardi)