05 outubro 2015

Saudade de domingo

Ilustração: Puuung

A saudade mais bonita é a mais simples. Eu a chamo de “saudade de domingo”. E por isso, ela é toda tua. É a saudade que não machuca, não dói nem desespera quem sente. É a saudade que faz estar presente o amor que se sente, o carinho que se tem, o companheirismo que não se perdeu. A saudade de hoje. É essa a saudade mais simples. E é tão bonita quanto qualquer outra. É a saudade logo após a despedida. A saudade que fica depois de tanta presença. A saudade que se mata rápido, mas que fica grudada na gente em forma de amor.

O domingo da saudade é o mais domingo de todos. A pele branca, macia, que as mãos escorrem facilmente, não se tem ao lado para acariciar. Os cabelos que permitem penetrar os dedos também se ausentaram. No domingo da saudade as pernas não se entrelaçam, o tempo passa mais devagar, o jogo é menos interessante, a leitura é a saída e, de novo, a saudade é companhia. Não é necessidade. Apenas vontade, de tudo isso que falo, de tudo isso que se faz.

Sentir saudade, nesses casos, é confortante. É saber que ama, é ter certeza do que quer. De quem se quer. Essa saudade não é caos, é paz, tranquilidade. É saber que existe um oásis logo ali, ainda que ausente no momento. Nesses casos, sentir saudade é deixar sorrir na boca um sorriso tímido, que não mostra os dentes, mas resume tudo que se diz no coração. É ver o tempo passar devagar, enquanto o coração acelera por um abraço. Um aconchego. Um cheiro no olho.

A saudade de domingo você encontra no olhar. O olhar que pede pra ficar ou que não entende a despedida. O olhar que pede sono, sonho. Mas não pede adeus. É a saudade que fica mesmo quando tudo está ali. Mesmo quando nada parece ter fim, quando o dia parece não mais acabar. Mas que, uma hora, acaba. E o sorriso que antes era frouxo, vez por outra vai perdendo a força. As brincadeiras começam a se esgotar, mas não por cansaço, não por tristeza, e sim por saudade. Do último minuto. Da discussão de quem canta pior. Do pênalti que não aconteceu. Do filme que poderia ter sido melhor. 

A saudade que fica pelos ares é o que eu chamo de saudade de domingo. Tem cheiro de amora, é doce como um vento de primavera e acomoda, relaxa, tranquiliza como uma rede a balançar num campo verde. A saudade de domingo às vezes é a saudade da vida toda. A saudade que não se mata, mas que se renova. A saudade que mantém vivo o coração que derrama de amor. Essa saudade, acho que posso afirmar, é aquela que não machuca. Apenas emudece. Pede bis. Pede abraço. Pede aconchego. Pede um pouquinho, eu sei, de eternidade. 

A eternidade mais efêmera é ainda a companhia mais duradoura. É achar que não existirá fim e aproveitar como se houvesse. E que vai haver, claro, mas a gente não precisa saber. Não precisa esperar. Basta sentir no último minuto e voltar, do portão, para abraçar mais uma vez. Porque parece meloso, parece romântico demais, utopia até. Mas é só saudade de domingo. Saudade das pernas esticadas, dos cochilos sincronizados e das faltas não marcadas. Saudade de domingo é saudade de rotina. De amor. No domingo, ame o máximo que puder. 

Dani Fechine